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Oportunismo racial

  • Foto do escritor: Elton G.P
    Elton G.P
  • 4 de jan. de 2018
  • 3 min de leitura

Atualizado: 11 de jan. de 2022


Uma imagem icônica possui grande poder de estímulo e de comoção quando promove a visibilidade de conflitos e de temas pertinentes à sociedade, da mesma forma, uma imagem tirada do seu contexto pode dar margem para que ideólogos oportunistas façam as leituras mais despudoradas possíveis dela. Como esta que vai abaixo.



Foto de criança síria que morreu afogada quando tentava chegar ao continente europeu. A leitura apressada e simplista tratou-a como um retrato da hipocrisia da Europa ante o sofrimento dos refugiados.


Registro semelhante é o caso da imagem abaixo, já considerada por alguns a ‘’imagem do ano’’, em que uma ''criança negra'', supostamente ‘’abandonada’’, sem camisa, aparece em destaque, olhando com um misto de encanto e indiferença a queima de fogos na praia de Copacabana.




Atrás dela, centenas de pessoas (‘’ brancas e de classe média’’, há quem diga) estão se divertindo e curtindo a queima de fogos .


O ângulo em que a foto é tirada não apenas sugere como também tem a intenção de nos fazer interpretar que todos estavam ignorando a presença do garoto ali e indiferentes ao seu estado de abandono.


Não é o que eu vejo, que fique claro! , mas é a leitura simplista que os empulhadores oportunistas da causa racial estão fazendo na mídia, quando pautam os problemas sociais a partir de uma atitude simplificadora da realidade brasileira, resumindo-a em termos polares e reducionistas.

Pouco importa se entre aqueles ‘’indiferentes'' com a presença da pobre criança ''negra’’ houvesse negros, pardos ou mestiços, pobres ou ricos, num congraçamento de cores, idades, classes socioeconômicas etc.


Somos orientados nas universidades, e nos demais níveis de ensino, por meio da ''educação étnico-racial'', a lermos as relações sociais no Brasil sob o espectro das lentes racistas e racialistas, ‘’problematizadoras’’, que identificam ‘’conflitos raciais’’, uma trama contra ''negros'', na cama, na indústria de beleza, na literatura etc.


Está mais do que claro para mim que o autor da fotografia tem um '''senso de oportunidade '' invejável para quem quer ser reconhecido no mercado fotográfico. Viu na criança negra sem camisa da qual nem sabia a origem ou procedência, ou mesmo se os pais dela estavam por ali para autorizar a fotografia a tão almejada oportunidade de ouro para registrar aquilo que, segundo o seu crivo racial, seria a expressão da flagrante e ‘’confortável contradição racial'’ brasileira, afinal, se é negro, “malvestido” e ‘’fora do seu lugar”, se é ''periférico'' e pobre, é bandido ou mendigo.


Não é assim como pensam os partidos de esquerda e os próprios movimentos negros racistas, na falta de argumentos racionais e mais qualificados, quando defendem a manutenção do staus quo da maioridade penal, argumentando que a redução dela é a chancela do ‘’genocídio da juventude negra’’ ?




sA implicação mais óbvia desse tipo de pensamento racista e estúpido é a de que nascer negro é condição determinante para o cometimento de crimes. Essa visão é racista, pois reforça um conjunto de estereótipos sociais, nada sutis, em torno dos negros pobres, como se a condição de ‘’negro, pobre e da periferia’’ fosse condicionante para o cometimento de crimes, quando, na realidade, a imensa parcela da população negromestiça da periferia é trabalhadora e com realçados traços de honestidade e retidão moral.




Moral da história, os empulhadores que fazem essa leitura rasa estão pré-condicionados a verem indivíduos negros em condição de ''inferioridade'' e acabam enxergando racismo onde só há uma criança.


Os movimentos raciais de militância negra são useiros e vezeiros desse expediente bucéfalo e preguiçoso, quando tentam explicar as desigualdades de renda e as condições precárias de vida de boa parcela de grupos negromestiços, traduzindo-a a uma questão de ''conflito racial''.



Se o problema brasileiro fosse racial, em termos como vemos no debate, de ''brancos contra negros'', como se explicaria o fato de termos enormes grupos de caboclos amazonenses mestiço de branco com índio e populações meridionais ''caipiras'', brancomestiços e pobres na sua maioria, habitando os rincões do país e vivendo em condições semelhantes de desigualdade ?











 
 
 

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