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A mestiçofobia dos movimentos (de) negros

  • Foto do escritor: Elton G.P
    Elton G.P
  • 1 de jan. de 2018
  • 5 min de leitura

Atualizado: 14 de jan. de 2022



Dias atrás desenvolvi algumas poucas linhas sobre o tema em questão, em um post publicado no Facebook, mas agora aproveito para reiterar algumas coisas sobre o que está por trás da campanha mestiçofóbica do movimento negro.


O vídeo abaixo é parte de uma manifestação dos ‘’coletivos negros’’ por ocasião do dia da Consciência Negra, em São Paulo, no dia 20 de novembro deste ano. É, por assim dizer e as imagens não me deixam mentir uma expressão do discurso de ódio e do autismo ideológico do movimento negro, que, como bem pontuou o antropólogo Antônio Risério, em recente artigo na Folha de S. Paulo, repete a mesma premissa do ‘’racismo científico’’, que vigeu por pouco mais de cem anos, entre os séculos XIX e XX, e formou as bases das principais teses racistas da modernidade, desde as políticas de segregação racial nos Estados Unidos até a “ciência racial” nazista de Hitler na Alemanha.


O que essas teses tinham em comum? Consideravam a miscigenação um retrocesso, sinônimo de degeneração racial e social e, no contexto do Brasil, a principal responsável pela impossibilidade de o país evoluir economicamente.


Não é por menos que, pelo fulcro das idéias de pureza racial desse tempo, literatos, cientistas e estudiosos da Medicina passaram a estudar e interpretar o caso brasileiro do ‘’espetáculo da miscigenação’’, expressão usada pela professora Lilia Moritz Schwarcz, em artigo que leva o mesmo nome. Os indivíduos gerados do cruzamento de branco com negro, ou de índio com negro, eram vistos sempre como seres ambivalentes, degenerados, anormais. Na literatura médica, por exemplo, com frequência o mestiço produto de relações sexuais ‘’espúrias’’ era classificado como ‘’mulato’’, por associação com a mula, espécie animal híbrida, isto é, resultado do cruzamento entre jumento com a égua.





Cito como exemplo um clássico de nossa literatura, O Mulato, de Aluízio de Azevedo. Nessa obra, Azevedo constrói uma personagem de nome Raimundo, um brancomestiço que, mesmo sendo fenotipicamente branco, tinha traços que ‘’denunciavam’’ a sua hibridez. Por esse motivo, era socialmente discriminado. A obra se insere nesse contexto que mencionei acima, profundamente marcado pelas discussões científicas do início do século XIX em torno da mestiçagem da sociedade brasileira.



Embora denunciasse a inferioridade do negro e dos mestiços, e os preconceitos sofrido por estes na sociedade escravocrata daquele momento, Azevedo o faz influenciado pelas premissas ‘’científicas’’ raciais. Raimundo, sua personagem, é contraditório, ambíguo e enigmático, ora possuía traços de doçura e civilidade, ora selvagens e animalescos, evidenciando por suas atitudes as características da diversidade racial com a qual era formado. Representava a contradição da população brasileira aos olhos da elite intelectual e dirigente do país, que via a mestiçagem com pessimismo.


Ser mestiço e ultrapassar as fronteiras ‘’raciais’’ num contexto em que ainda se podia dizer que negro era negro e branco era branco representava uma ameaça ao status quo racista, perpetuado pelas inúmeras teorias ‘’científicas’’ da época, responsáveis, inclusive, pela classificação racial arbitrária criada pelas leis de segregação racial levada a cabo nos Estados Unidos, com as quais muitos indivíduos mestiços foram obrigados a se enquadrarem como ''negros'', nunca como ''brancos'' ou mestiços.


No Brasil, não houve leis de classificação racial impostas pelo Estado que dividissem a população em categorias de ‘’brancos’’ e ‘’negros’’, o que deixou uma imensa parcela da população brasileira ‘’à margem’’ dos esquemas dicotômicos de ‘’preto versus branco’’. Essa ausência da classificação racial aos olhos dos movimentos negros racialistas foi a principal responsável pelo que eles chamam de ‘’mascaramento da realidade racial’’ do país, pois fazia parte de uma ''ideologia branqueadora'' que estava em curso e que via no mestiçamento a possibilidade de ''clareamento'' da população.


Todavia, para ser honesto com a realidade histórica do país, as coisas não se resumem meramente a uma questão ideológica tramada por brancos, como quer-nos fazer crer os movimentos negros. O autismo ideológico desses movimentos não distingue o que foram as muitas ideologias da mestiçagem que existiram de fato da mestiçagem como fato real, histórico e incontestável, contra a qual não se pôde/pode fazer muita coisa contra, afinal ir para a cama com alguém sempre foi uma escolha de foro íntimo, privado.





Agora, observe bem: Se o estupro foi, por um momento, no Brasil, um instrumento de força por meio do qual brancos levavam negras para a cama, e do fruto dessas relações colocavam no mundo indivíduos ''mulatos'' e ''bastardos''; houve também, inegavelmente, muito mais espaço para relações consentidas, resultado da cumplicidade entre brancos e negros. Ignorar isso é forçar uma leitura estuprada da realidade brasileira.


Aqui vale uma observação importante: os movimento negros, mais especificamente as feministas negras, dirão que o estupro foi a regra e que, pasmem, miscigenação é sinônimo de estupro, violência. Uma vigarice ideológica que não tem comparação! Seguindo a lógica dessas mulheres na sua imensa maioria lésbicas e fiscais de vaginas alheias, principalmente das mulheres negras heterossexuais que casam com homens brancos'' —, os relacionamentos ‘’interraciais’’ dão-se por meio de estupros, ‘’violência simbólica’’ e ‘’ opressão’’.


O combate à miscigenação por parte dos movimentos negros é irracional, irascível e ignorante, ignora ou finge não ver a realidade brasileira do País, dá as costas à imensa população brasileira mestiça e híbrida e volta-se para o passado, imbuída de idéias raciais para estudar as questões sociais do país, tendo por base o paradigma racial dicotômico e polar norte-americano. Com essa atitude, repetem a visão racista do início do século passado: pintar o mestiço como ‘’alienado político’’, mais um ‘’negro de alma branca’’ vendido.


Reforçam, com essa atitude, a crença em raças como entidades biológicas desmistificada pelos modernos estudos da Genética — ; consideram a mestiçagem como ‘’genocídio’’, isto é, um extermínio da população fenotipicamente negra; e implicitamente reiteram a crença na suposta superioridade da ‘’raça’’ branca em detrimento da ‘’ negra’’.


Crença, aliás, dos ideólogos do mestiçamento que tantos os movimentos negros acusam, pois a exemplo dos antigos defensores do mestiçamento, os racialistas da causa negra parecem acreditar também que a mestiçagem promove o ‘’apagamento’’ dos inúmeros contingentes negros do Brasil.


O que o movimento negro reforça com essa postura anti-miscigenação é a mesma visão dos racistas do século passado. Veem a mestiçagem como branqueamento unicamente, não como possibilidade também de escurecimento. Na busca pela construção de uma ‘’raça negra’’ homogênea, com traços fenotípicos visíveis, como cor de pele e cabelo, declararam guerra ao mestiçamento e aos mestiços e se imiscuíram, no caso específico das feministas negras, na vida amorosa alheia, ditando regras de como um ‘’negro’’ ou ‘’negra’’ deve se relacionar sexualmente.



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Referências:

COSTA, Rosely Gomes. Mestiçagem, racialização e gênero;

DINIZ, Leudjane Michelle Viegas. LINHAS DA LITERATURA: um estudo sobre as representações da escravidão no romance O mulato, de Aluísio Azevedo;

RISÉRIO, Antônio. Movimentos negros repetem a lógica do racismo científico, diz antropólogo. Folha de S.Paulo. Disponível em :<http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2017/12/1943569-movimentos-negros-repetem-logica-do-racismo-cientifico-diz-antropologo.shtml ;

SCHUWARCZ, Lilia Moritz. Espetáculo da miscigenação.


 
 
 

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