A volta da‘’educação tecnicista’’: ‘’pobres vão virar mão de obra, sem espírito humanista!’’
- Elton G.P
- 25 de jan. de 2019
- 4 min de leitura
Atualizado: 12 de jan. de 2022

A indicação de educadores do Centro Paula Souza e do ITA ( Instituto Tecnológico de Aeronáutica ), principais referências no ensino técnico e profissionalizante do País, para o Ministério da Educação do governo Bolsonaro tem causado maior frisson entre a esquerda educacional.
Os ‘’pedagogos críticos’’, que descrevem a si mesmo como ‘’progressistas’’ e defensores de alunos com mais ‘’consciência crítica’’, veem nas escolhas dos novos ocupantes do MEC uma guinada ao modelo de ‘’educação neoliberal’’ , defendida pela Escola de Chicago, que pretende levar a cabo um modelo empresarial de educação, que pretende ‘’subordinar a educação à sociedade capitalista e industrial’’.
Esses educadores, os mesmos que tiveram amplo e irrestrito acesso à implementação e execução das políticas educacionais dos governos do PT nos últimos 13 anos, defendem que está em curso, por parte do governo Bolsonaro, em parceria com empresários, a restauração da visão tecnicista de educação que pretende ‘’descartar o corpo e a mente dos alunos’’ e transformá-los em ‘’mão-de-obra qualificada para atender o mercado de trabalho’’.
Explicando o termo ‘’educação tecnicista’’
Antes de o leitor prosseguir na leitura, é preciso aclarar os termos, a fim de que este texto cumpra sua finalidade. ‘’Pedagogia tecnicista’’ é uma expressão muito frequente no pedagogiquês de profissionais e de estudantes da área da Educação, com a qual se insulta ou rotula qualquer método pedagógico ‘’não-crítico’’ de ensino que não leve em conta o blá-blá-blá da visão ‘’crítica’’ dos pedagogos sociointeracionistas.
Demerval Saviani, principal expoente da pedagogia histórico-crítica, define, em Escola e Democracia, a ‘’pedagogia tecnicista’’ como a pedagogia ‘’inspirada nos princípios de racionalidade, eficiência e produtividade’’ (p. 12), e José Carlos Libâneo, outro que comunga da mesma visão ‘’crítica’’ de educação, em Democratização da escola pública: a pedagogia crítica-social dos conteúdos, como a pedagogia que torna os alunos ‘’competentes para o mercado de trabalho, transmitindo, eficientemente, informações precisas, objetivas e rápidas" (p. 290).
Daí em diante, sob o rótulo ‘’tecnicista’’ muitas formas de ensino ‘’não-críticas’’, as tradicionais principalmente, passaram a ser alvos do ataque sistemático dos pedagogos marxistas, e todos os profissionais que tinham uma forma de ensinar rotulada como ‘’tecnicista’’ vistos como ''centralizadores'' que tratam alunos como ‘’robôs e receptores passivos’’ de conteúdos.
Preconceito ideológico está por trás do medo ao ‘’ensino tecnicista’’
Os pedagogos críticos partem da ideia de que são ‘’bons’’ e de que ninguém melhor do que eles sabem o que é bom para os alunos das camadas populares. Essa reivindicação moral dos professores engajados com a concepção histórico-crítica de ensino faz com que eles se arroguem no dever de ‘’proteger’’ os estudantes pobres de suas próprias escolhas. Os educadores marxistas creem que eles, os burocratas, devem definir o que é melhor para a vida desses estudantes.
Como se uma coisa excluísse a outra, na visão deles, o dilema do estudante pobre seria optar pela formação técnica e profissional em vez de dar sequência aos estudos e ingressar numa universidade, como fazem os estudantes das classes favorecidas. Aumentando ainda mais o fosso da desigualdade social nas profissões entre pobres e ricos.
Por assim ser, os educadores veem qualquer incentivo à formação técnica e profissionalizante na educação como uma espécie de orquestração contra os pobres com vistas a formar indivíduos “competentes” para o mercado de trabalho, e não para a ‘’consciência crítica’’, para o engajamento ‘’reflexivo’’. Em síntese, na visão desses educadores, antes um estudante pobre e desempregado, mas ‘’crítico’’ de tudo quanto está aí, do que um pobre com carteira assinada, ‘’mão-de-obra barata’’ engrossando o modelo econômico capitalista.
Centro Paula Souza e ITA compõem o núcleo do MEC
O portal online da revista Nova Escola deu destaque para a escolha de Luiz Tozi, do Centro Paula Souza, para a Secretaria Executiva do MEC, um dos cargos mais altos dentro do órgão. A matéria ainda lembra o trabalho desempenhado pelo instituto:
O Centro Paula Souza é conhecido como uma das melhores instituições de ensino profissional em São Paulo. Conta com 223 escolas técnicas (conhecidas como Etecs) e 72 faculdades de tecnologia (Fatecs) estaduais em São Paulo. Ao todo, a instituição soma 208 mil estudantes nos ensinos Técnico, Médio e Técnico Integrado ao Médio e 83 mil alunos em cursos de graduação tecnológica.
Além de Luiz Tozi, integra o núcleo de profissionais nomeados para postos-chave no MEC Anna Cristina Carvalho, que será Secretária de Educação Básica. Muitos dos indicados têm em comum ou formação em engenharia e áreas afins, ou possuem ligação com instituições de ensino militar, a exemplo do ITA. Essa composição faz com que educadores da esquerda enxerguem na atual conjuntura muitas semelhanças com o pensamento ''tecnocrata e autoritário'' que deu as cartas na educação brasileira durante o Regime Militar, nas décadas de 1970 e 1980.
Referências
Libâneo, José Carlos. Democratização da escola pública: a pedagogia crítica-social dos conteúdos. 8. ed. São Paulo: Loyola, 1989.
Saviani, Dermeval. Escola e democracia. 41. ed. revista. Campinas, SP: Autores Associados, 2009.
Atual responsável pelas Fatecs em SP deve ser secretário da educação básica no MEC. Disponível em: https://educacao.estadao.com.br/blogs/blog-renata-cafardo/atual-responsavel-pelas-fatecs-em-sp-deve-ser-secretario-da-educacao-basica-no-mec/
Anna Cristina Carvalho é nomeada para diretoria da Secretaria de Educação Básica. Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/15227/anna-cristina-carvalho-e-nomeada-para-diretoria-da-secretaria-de-educacao-basica
Quem é quem no MEC de Jair Bolsonaro. Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/14880/quem-e-quem-no-mec-de-jair-bolsonaro
Cargos-chave da Educação terão pesquisadores ligados a militares sob Bolsonaro. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2018/12/cargos-chave-da-educacao-terao-pesquisadores-ligados-a-militares-sob-bolsonaro.shtml
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